sexta-feira, novembro 20, 2009

Cativa-me



Este diálogo é trecho de "O Pequeno Príncipe", e que sutilmente dá o recado para nós comunicadores que adentramos sem pedir licença nas casas e nas vidas de quem está do outro lado do radinho.


“Cativa-me”

Foi com essa pequena e singela palavra que uma raposa pediu para ser amiga do tão conhecido principezinho criado pelo escritor francês Antoine de Saint Exupéry.

No diálogo com o ingênuo habitante do outro planeta, o esperto e simpático animal foi filosofando sobre a importância de uma grande amizade na vida das pessoas.

Em simples palavras, a raposa explica o significado da palavra e exemplifica como o outro se torna fundamental na nossa vida, quando ambos são “cativados”.

“... E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
– Bom dia, respondeu politicamente o principezinho que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? Perguntou o príncipe. Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse ela.
- Vem brincar comigo, propôs o príncipe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah, desculpe, disse o príncipe. Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muita esquecida, disse a raposa. Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo... a raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera disse o príncipe, mas não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. As pessoas não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, as pessoas não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me! As pessoas esqueceram a verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que “cativas”.

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