
Pra não deixar passar batido esse foi um dia muito triste para fãs como eu de uma das bandas primeiras bandas do rock nacional, que colocaram o dedo na moleira e troxeram em suas letras tudo que o adolescente queria ouvir e sentia sem saber muito bem o que se passava consigo mesmo.
No dia 11 de outubro de 1996, Renato Russo morreu vítima de AIDS, deixando um legado notável para o rock nacional e abandonando milhões de fãs, que ficaram com a sensação de "ainda é cedo", pela morte prematura do cantor.
Poucos artistas conquistaram um público tão apaixonado. Marcelo Bonfá, baterista da Legião Urbana e um dos fundadores da banda, explica a ascensão do grupo: "o país passava por um momento especialmente receptivo para a maneira que estávamos trabalhando". Ele acredita que não só as letras e melodias, mas também a postura e as idéias dos integrantes da Legião cativavam o público.
Renato Russo e suas composições tinham brilho especial, em meio à efervecência do rock de Brasília nos anos 80. O vozeirão grave e as letras simples e diretas aproximavam as pessoas de suas músicas. "Ele tinha o jeitão de um cara normal. Não era bonito, mas chamava a atenção. Através das letras, ele escrevia coisas muito pessoais, mas que encontrava eco no jeito como as pessoas se sentiam", explica Fernanda Takai, vocalista do Pato Fu e fã do trabalho de Renato.
Sobre o talento individual de Renato Russo, ela compartilha da opinião da crítica musical, que sempre o considerou um intérprete muito bom, pelo sentimento com que cantava, fato que fica mais claro em seus projetos solos e quando fazia versões de canções de outros artistas. "Ele é do tipo de cantor que conserta qualquer música", conta a Fernanda.
Para Marcelo Bonfá, a canção "Pais e Filhos" ("é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã") é a que mais representava a personalidade multifacetada de Renato Russo. A vocalista do Patu Fu disse que escolheria uma composição do The Smiths, "The Boy With The Thorn In His Side" (em inglês, "o garoto eternamente atormentado") para cantar ao lado do letrista da Legião, música que Renato adorava.
Renato doente
Ao contrário de seu contemporâneo Cazuza, Renato Russo nunca revelou publicamente que contraiu AIDS, doença com a qual conviveu durante seis anos.Ele também enfrentou problemas com álcool e drogas ao longo da carreira. A turnê do disco V foi cancelada um mês após ter começado, para que o vocalista se recuperasse.
Na adolescência, o líder da Legião sofria de epifisiólise, uma doença óssea rara, que o mantinha preso a uma cadeira de rodas. Foi nessa época que ele começou a pensar em montar uma banda de rock, como uma forma de expressar seu protesto contra as injustiças e vícios da sociedade: "não tínhamos sonhos, ou melhor, só tínhamos sonhos!", explica Bonfá sobre as realizações do grupo.
O HIV, porém, foi deixando Renato Russo descrente da vida. Ele se fechou em seu apartamento nos últimos dias de vida. Perguntado sobre a maior maldade que teria feito, Renato respondeu: "Não admitir que as pessoas se preocupavam comigo".
Após cantar "Mais do Mesmo", durante a gravação do projeto Acústico MTV (de 1992, mas divulgado somente três anos após a morte do compositor), Renato mostrou como a doença já o afetava: "na hora da enfermaria (os versos: "enquanto isso, na enfermaria, todos os doentes estão cantando sucessos populares") ficou uma coisa cinza. Eu me lembrei de uma porção de coisas que estão acontecendo... sexo seguro, pode fazer tudo, contanto que esteja com camisinha".
Sucesso da Legião Urbana
Renato Russo declarou em 1990, durante a turnê do disco As Quatro Estações, que se incomodava com o trocadilho criado pelos fãs, que chamavam a banda de "Religião Urbana". A verdade é que a Legião lotava estádios aonde quer que se apresentasse.
O baterista do grupo tenta ser modesto ("Renato, ídolo? Legião Urbana, ídolo? Eu, ídolo? Não!), mas reconhece a repercussão que sua banda conquistou ao longo dos anos: "Eu nunca ouvi falar de alguém que não gostasse de Legião Urbana! Talvez estejam fingindo para mim!", brinca Marcelo Bonfá.
Por mais que alguns resistam, é raro encontrar algum brasileiro que não saiba cantar um verso de "Será" ("será só imaginação, será que nada vai acontecer"), "Há Tempos" ("parece cocaína, mas é só tristeza") e outros sucessos da Legião Urbana, tamanho o alcance e importância dela para o rock nacional.
"Tanto é que, conquistando tantos indivíduos de uma geração, acabamos por conquistar também uma próxima geração. Afinal, o mundo não mudou na sua essência", explica Bonfá. Bem, se Elvis não morreu, Renato Russo e a Legião Urbana idem!
Dica:
Não deixe de ler Renato Russo de A a Z.
Song by : Clarisse - Legião Urbana.
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